Como
a ideologia chega a obter seus resultados? Em primeiro lugar, opera por
inversão, isto é, coloca os efeitos no lugar das causas e transforma estas
últimas em efeitos. Ela fabrica ideias e falsas causalidades. Por exemplo, o
senso comum social afirma que a mulher é um ser frágil, sensitivo, intuitivo,
feito para as doçuras do lar e da maternidade e que, por isso, foi destinada,
por natureza, para a vida doméstica, o cuidado do marido e da família. Assim o
“ser feminino” é colocado como causa da “função social feminina”. Ora,
historicamente, o que ocorreu foi exatamente o contrário: na divisão sexual
social do trabalho e na divisão dos poderes no interior da família, atribuiu-se
à mulher um lugar levando-se em conta o lugar masculino; como este era o lugar
do domínio, da autoridade e do poder, deu-se à mulher o lugar subordinado e
auxiliar, a função complementar e, visto que o número de braços para o trabalho
e para a guerra aumentava o poderio do chefe da família e chefe militar, a
função reprodutora da mulher tornou-se imprescindível, trazendo como
consequência sua designação prioritária para a maternidade. Estabelecidas essas
condições sociais, era preciso persuadir as mulheres de que seu lugar e sua
função não provinham do modo de organização social, mas da Natureza, e eram
excelentes e desejáveis. Para isso, montou-se a ideologia do “ser feminino” e
da “função feminina” como naturais e não como históricos e sociais. Como se
observa, uma vez implantada uma ideologia, passamos a tomar os efeitos pelas causas.
Uma
terceira maneira de operação da ideologia é o silêncio. Um imaginário social se
parece com uma frase onde nem tudo é dito, nem pode ser dito, porque, se tudo
fosse dito, a frase perderia a coerência, tornar-se-ia incoerente e
contraditória e ninguém acreditaria nela. A coerência e a unidade do imaginário
social ou ideologia vêm, portanto, do que é silenciado.
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